Friday, December 23, 2005

tchim tchim...

Ao sol à lua, ao monte da lua, à chuva, ao frio, ao mar, areia, ao calor e às acácias. Às manhã, às tardes e as tardinhas. Às noites, noitinhas e noitadas. Às grandes amizades, às mulheres da minha vida, homens da minha vida, amores, risos, gargalhadas, macacadas e às lágrimas. À bicicleta, à canoa, tenda, saco de cama, às caminhadas e viagens. Aos livros e à musica. Aos pozinhos de perlimpimpim, magia, imaginação, aos gnomos e ao seres encantados, à essência e aos habitantes do meu mundo. À simplicidade, transparência, naturalidade e à verdade. Às memorias, boas e más. Às frustrações, desilusões, perdas e tropeções. Às conquistas... e à felicidade.

Para o Ano... igual ou melhor!!!

Wednesday, December 21, 2005

Rapariga extraterrestre...

Sê bem vinda, rapariga extraterrestre. Aterraste a tua nave na minha mente há muitos anos, o único sitio onde estás em segurança. O mundo é-te inatingível, tu sabes disso. Através dos meus olhos observas e da minha audição ouves, mas não podes falar. Sabes que te manteriam em cativeiro para investigar. Cortavam-te aos pedaços e separavam-te em frascos de vidro. E nem mesmo eu poderia salvar-te.

Nunca te vi, apenas te sinto dentro de mim. Por vezes olho-me ao espelho e tento procurar-te para lá dos meus olhos, tento invadir a minha própria retina numa tentativa de te ver na transparência. Mas é sempre tudo em vão.

Não te compreendo. Falas comigo em códigos que não percebo e fervilhas-me o sangue. Fazes-me cócegas no coração, beliscas-me o estômago e brincas com os meu lábios. Sempre que podes encavalitaste no meu espírito e partem juntos em viagens mirabolantes. Mas eu não me importo... até gosto.

Poucos sabem que existes. Não por seres um segredo mas sim um mistério. Um mistério que nunca desvendarei porque não tenho o controlo sobre ti. Há quem te chame sentimento... eu prefiro chamar-te uma coisa do outro mundo.

Tuesday, December 20, 2005

Obra inacabada...

Sentou-se no canto oposto da sala. Observou a grande tela branca de dois por dois metros que se encontrava à sua frente. Naquele dia ainda não tinha dado com um pingo de inspiração. O que fazer num espaço branco tão vazio.

Tinha um tique nervoso... a boca não parava. E tornava-se cada vez mais intenso com o passar do tempo.
Nos seus 50 anos de vida, já muito tinha conquistado. Uma vida sossegada, tranquila e cheia de sucessos e inspirações. Amores é que teve poucos ou nenhuns. Colocava sempre as culpas no seu tique, nenhuma mulher gostava de ser beijada por ele, aliás olhavam-no quase como uma aberração.

Por isso canalizou tudo para aquilo que melhor sabia fazer e amava... prendia os seus sentimentos em óleos, e emoções em aguarelas. Poucos eram aqueles que interpretavam da melhor maneira as suas obras, não o compreendiam.

Naquele dia ainda com a tela em branco, lembrou-se da sua cor favorita. Misturou na paleta o azul com o amarelo e cobriu a grande área branca na sua totalidade. Representou a infância com nuvens em formas infantis, as amizades com um sol brilhante e intenso, amores e paixões alheias com uma lua cor de laranja. As conquistas representou-as com um grande mar de horizonte delineado, frustrações com arvores despidas e a tranquilidade com um anjo...

Depois voltou ao canto oposto da sala e observou durante um longo momento o que tinha feito até ali... estava inacabada, claro que estava inacabada... o destino ainda lhe reservava muitas coisas e era impossível representa-las no presente. Seria a obra da sua vida. Desta vez não assinou no canto inferior direito...

Monday, December 19, 2005

Simplesmente...

Choro porque ela chora, e sofro porque ela sofre.
Procurou nos meus magros braços todo o calor que lhe podia dar, e nas minhas palavras o conforto de uma grande amizade.

Chorou compulsivamente durante horas, pensei que nunca mais iria parar. Depois entre soluços lá percebi de onde vinha tanto desgosto.

Palmilhamos quilómetros de asfalto por essa estrada fora, cantando em plenos pulmões as musicas mais triste. Riamos, chorávamos e recordamos pequenos e grandes momentos que passamos juntas na infância...

Aterramos em plena baixa lisboeta e misturamo-nos com o fanático consumismo natalício. Percorremos a Rua mais movimentada... e foi bem no meio que nos sentamos num dos poucos degraus limpos, mesmo de frente para um grupo vestido a rigor que tocava uma parafernália de instrumentos de onde saia um som... tranquilizador... uma musica que acalmava e mexia com espírito. Já tinha ouvido tal estilo de musica mas se calhar não foi com o sentimento certo... aquele que vinha comigo naquele dia.
Deixamo-nos ficar ali, invisíveis e transparentes para quem passava.

“-Temos cinco minutos!!”, começamos a correr desenfreadamente pela rua... passamos sinais vermelhos e atropelamos passadeiras... só parámos em frente da gigantesca arvore de natal, mesmo a tempo de ver o acender das luzes.
Demos as mãos sem nos importarmos com o que os outros pensariam, e ficamos de cabeça pendurada para trás a observar cada camada de alumínio que se iluminava gigantescamente...

No fim do dia, já mesmo muito à noitinha, deixei-a em casa, esperei que adormecesse, aconcheguei-lhe as mantas e beijei-a na fonte...

Friday, December 16, 2005

Top UK

Descobri aqui qual era a musica que estava no top UK no dia que nasci...

Thursday, December 15, 2005

Noites de praia...

É bastante doloroso aguentar o frio fino de bater o dente, que se faz sentir na praia aquela hora, e principalmente conseguir enxergar um palmo a frente do nariz, face à neblina espessa que cobre toda areia.
Sejam que horas forem, a praia nunca está completamente vazia. Aqui e além encontram-se conhecedores do mar que nos levantam o braço em sinal de cumprimento.

Procurámos um porto de abrigo, e depositámos os ossos enregelados dentro dos sacos camas. Passámos a noite a rir.... com os olhos esbulhados no escuro a tentar decifrar quem era quem. E riamos numa bebedeira despropositada de quem não tinha bebido uma gota de álcool. Por fim, quando a noite já ia bem alta adormecemos, formamos o circulo cinco.

Fui a primeira a acordar com a luz fosca. Procurei os outro, e todos dormiam profundamente. Dei duas voltas para desentorpecer o corpo, e esperei tranquilamente.
De olhos posto no céu e de mente vazia do que quer que fosse, observei o nascer do sol num espectáculo de cor e luz. Um espectáculo que a natureza ensaia todos os dias e encenou especialmente para mim naquela manhã... fez-se dia!!

Já estavam de olhos aberto quando os procurei pela segunda vez. Todos tínhamos assistido aquele nascer de dia em silêncio. Pouco mais tarde, alguém disse uma piada sobre a Senhora que passeava com um lindo e grande chapéu rosa choque... e começou tudo de novo...

Wednesday, December 14, 2005

Metáfora de crocodilo!!

Um dia dormiu nas margens de um rio infestados de crocodilos, que a convidou para um mergulho fatal.

Nunca imaginaria que o melhor seria ter um rótulo enrolado na cintura com a indicação das calorias, para o caso dos crocodilos estarem de dieta.

Mas não... cansada da caminhada, apenas chapinhou os pés calejados das botas duras, e deixou-se ficar com os pés de molho. Lavou os braços o pescoço e distraiu-se a contar as estrelas.

No fundo do rio, já os crocodilos discutiam qual ficaria com a melhor parte da presa.

Mas não...Roendo a única maçã que sobrara da boa vontade dos transeuntes, retira os pés de dentro de agua e passeia em passos curtos cantarolando numa tosca alegria.

Um crocodilo espreitou para apreciar. Lambeu os beiços e salivou de gula.

Mas não... O cansaço estava a vencer tinha que ir dormir, já não conseguia abrir os olhos. Entrou dentro da protecção do acampamento e adormeceu instantaneamente.

No fundo do rio os crocodilos traçavam a melhor estratégia para logo de manhã caçarem a peça de carne fresca. Todos opinavam e interrompiam-se uns aos outros com ideias cada vez mais estúpidas... e exigiam a sua parte do prémio... alguns já deliravam com o sabor que teria...

Mas não... ela era de borracha.

Tuesday, December 13, 2005

Nos braços de um anjo...

Deixo todos os dias propositadamente a janela aberta para que possa entrar e acordar-me caso eu adormeça num sono profundo.
Muitas são as vezes que me pega nos braços e me leva ainda adormecida. Acordo já lá bem alto, olho para baixo e vejo um mundo pequenino e limitado.

Longe do chão, onde tudo o que se passa é somente imaginação e fantasia, vagueamos nas florestas encantadas de sonhos emprestados, e visitamos as estrelas de perto. Escrevemos na areia da praia os meus desejos mais profundos, e fala-me em realizar sonhos ainda não imaginados.

Não sei o seu nome, nunca me disse. Intitula-se como o guardião dos meus sonhos por concretizar. Conforta-me, e ajudam-me a procurar coisas que dei como perdidas.

Não tem imagem, apenas luz. Um dia distraído, consegui ver-lhe uns olhos verdes. Penso que são transparente, não vá acontecer alguém se apaixonar e não poder voltar.

Quando são horas de regressar, acompanha-me de novo ao chão. Abraça-me longamente, e beija-me no rosto. Embala-me até adormecer novamente. Luto desesperadamente com o sono para não terminar, mas sou sempre vencida...

Monday, December 12, 2005

Paixões I

Mais um fim de semana. Aventureiro por defeito desdobra o mapa em cima do estirador, fecha os olhos e escolhe aleatoriamente um destino. Baixo Alentejo mais propriamente uma pequena terra chamada Luzia.
Arruma na mochila o indispensável e parte em direcção ao que o seu dedo indicou.

O comboio pára numa estação vazia de vida. O silêncio estava presente. No céu ainda podia ver a lua pálida a cair para sudoeste, empurrando a noite para os mistérios de um novo dia.
Os primeiros sinais de luz deixavam vislumbrar os campos verde infindáveis, salpicados aqui e ali de sobreiros, criando autênticas aguarelas.

Inspirou o ar fresco da madrugada e fez-se ao caminho.
Não sabia ao certo onde seria ou que teria de andar, mas não havia ninguém para perguntar e estava imparável na sua sede de conhecer.

A meio do caminho um pequeno cemitério, típico com as suas arvores simbólicas. Procurou a entrada onde um grande portão estava escancarado. Optou por entrar.
Campas antigas, muito antigas, maior parte delas datavam 1800, leu nomes e calculou idades, imaginou vidas e observou por longos momentos as fotografias. Em outro sitio qualquer seria um espectáculo macabro, mas ele não conseguia resistir, a curiosidade elevava-se a qualquer bom senso.

Mais ao longe algo lhe chama a atenção. Uma campa enorme marmoreada modernamente destacava-se das demais. Lentamente aproximou-se.

Era a campa de um poeta morto. Na lápide tinha inscrito um soneto da sua autoria. Ao lado uma dedicatória de amor, de um grande amor por sinal. Procurou um papel e uma caneta, e ali mesmo, sentou-se no chão e com a campa a servir de apoio transcreveu o soneto, que em cinco minutos foi liberto pela tinta que ia secando na folha de papel...

Paixões

Soneto da autoria do Poeta Raul Coentro

Paixões? Tive algumas folgares,
Depois de ter a vida desposado,
Algumas foram flirts inconstantes,
Mas outras um romance demorado.

Senti pela dona paz paixões constantes,
Andei pela justiça apaixonado;
Colhi paixões na dor impressionantes;
E fui da liberdade enamorado.

A vida revelou este adultério;
Porém quando me viu levar a sério,
Um foco de paixão pela dona sorte
Cismou em me deixar sem fé sequer...
Então por eu não ter paixão qualquer,
Por mim se apaixonou a negra morte.

Paixões I (continuação)

“Café Central”, lê num toldo branco sujo. Fica localizado à esquerda depois da rampa.
Entrou e escolheu uma das poucas mesas vazias. Ninguém tirava os olhos de cima dele” Quem seria?!”. Ao seu lado um grupo de cinco mulheres bem típicas cochichavam e olhavam. No balcão já giravam os copos de vinho, e parecia que aquela hora da manhã já toda a aldeia estava acordada.

Pediu qualquer coisa para comer, que lhe foi trazido por uma rapariga com um grande sorriso, e relaxou enquanto o digeria.
Silêncio. Um silêncio perturbador, agora todos os olhares estavam fixos na porta.

E viu-a. Alta e esguia completamente vestida de preto. O cabelo imaculadamente bem arranjado, louro atado em nó na nuca. Colar, brincos e duas alianças no mesmo dedo. Olhar distante...era ela.
O grupo das cinco mulheres continuou no seu escárnio e mal dizer, agora eram dirigidos aquela figura aparentemente frágil. Poucos foram os que lhe dirigiram os bons dias.

Sentou-se delicadamente numa mesa de dois lugares. Pediu dois cafés, um para ela e o outro para alguém com quem mantinha uma conversa, uma conversa muda com o imaginário.
No meio dos murmurinho ouviu... “mulher do poeta!”. Estava confirmado.

Ele levantou-se. Puxou uma cadeira e pediu-lhe quase silenciosamente para se sentar. Não sabia como ia puxar o assunto mas começou por lhe pedir desculpa pelo facto de ter transcrito o soneto da campa, sem qualquer autorização. Espantada olhou para ele... pediu que repetisse. (...)

Wednesday, December 07, 2005

Loucura pouco calculada!

"Luísa, passei pela segunda vez naquela calçadas estreita que soube até ti, só para te espreitar.
Da tua janela aberta surgem as luzes amareladas do um candeeiro de mesa que cortam a escuridão da noite, escuridão que me esconde.
Fico a olhar, qualquer sinal vindo de dentro é o suficiente para alimentar o meu eu. Desejo que estejas sozinha.

Na noite choro lágrimas amargas como fel. Sinto no coração a amargura da frieza das minhas próprias palavras. Choro porque não te queria ter perdido. Vi-te num momento desiludido e mandei-te embora, não dei oportunidade que soltasses o espírito.

Não consigo ficar indiferente ao teu silêncio. Por isso...

Numa musica frenética e com o som no máximo, dou saltos numa alegria fictícia. Esbanjo sorrisos falsos e sou hipócrita nos sentimentos.

E só quero saber quando... quando me vou ver livre de ti. Levaste-me o coração e o espírito... a alma. Fechaste o portal que separa este mundo e o outro, e engoliste a chave. Estou preso. Ensinaste-me a odiar, a ser estratega e calculista. Estou em risco eminente de cortar os próprios pulsos. Estarei louco..."
:)

Tuesday, December 06, 2005

Sr. Asdrúbal

O Sr. Asdrúbal tem 80 anos. Pertence à geração dos laços e dos chapéus de fita. Figura alta e esguia que segura na ponta de dois dedos amarelados um cigarro.
Sentado numa cadeira de escritório antiga, cruza as pernas e começa: “-no meu tempo...”.

Um excelente contador de história, que me maravilham cada vez que vou tomar chá a sua casa. O chá é sempre servido às dezasseis horas, e nem por um segundo alguma vez me passou pela cabeça chegar atrasada às minhas tardes de Tertúlia com o Sr. Asdrúbal.

Subo as escadas de madeira que rangem a cada peso do pé até ao último andar, bato numa porta de madeira pintada ocasionalmente de branco e ouço o destrancar da porta por dentro:
“-és tu?” e sorri...
O apartamento é bastante antigo, com uma decoração a condizer. “Retratos” antigos aos quais ele vai apontado e contando as suas histórias.
Vamos até à salinha onde o chá já me espera a fumegar dentro da chávena. E é enquanto beberico o chá escaldante que o tempo volta para trás. Pára num dia de Primavera em que o Sr. Asdrúbal conheceu a Dona Julieta, no dia em que com dez anos já trabalhava e perdeu-se no caminho para casa, ou até mesmo naquele dia triste de Novembro algures entre 1940 e 1950 em que o filho mais novo faleceu no berço com uma simples doença dos nossos dias. (...)

Olhos claros e pele luzidia olha para mim com uma ruga vincada entre as sobrancelhas e continua:
“- Já te contei que vive uma moura encantada na serra... é muito parecida contigo?!!”
E por mais uma hora viajamos ao tempo de mouras encantadas e cavaleiros cristãos, com uma credibilidade que chego a pensar se não será um imortal.

Por fim batem à porta... entre dentes resmunga qualquer coisa, e volta com o saco do jantar...era o anunciar da noite.

A porta de madeira pintada ocasionalmente de branco fecha-se atrás de mim, e dentro do antigo apartamento ouço a voz do S. Asdrúbal:
“- Amanhã á mesma hora?”

Monday, December 05, 2005

Lagartinho...

Oito da manhã. Aquela Serra já grita por mim, num domingo em que só me apetece dormir. Levanto-me e meto-me a caminho. A chuva miudinha ameaça cair, mas continuo, aliás até desejo que chova torrencialmente, o pouco algodão que trago no corpo deixará por certo a chuva chegar à pele, e é isso que eu pretendo.

Não está frio, mas a típica neblina está presente, autênticos braços que me envolvem num longo abraço e me prendem para sempre a um amor platónico.

O silêncio daquela Serra é indescritível. Um silêncio que é cortado pelo vento que bate nas arvores, pela gotas presas de chuva que teimam em cair das folhas e pela minha voz, que se solta por entre sorrisos tolos.

A viagem é longa, e é para ser feita com tempo. O limite é onde eu quiser, e a sensação de liberdade é para ser atingida. Apesar das horas continuarem a bater como num outro dia qualquer, vou esquecer aquele tic-tac que me empurra a correr para o amanhã.

Começou a chover. Gotas grossas demais batem-me na pele. Com a velocidade que atinjo no momento, parecem agulhas que furam a carne. Tenho de parar num canto e providenciar um abrigo.

E foi então que o vi, nesse mesmo abrigo num sitio sem coordenadas. Um rapazinho de casaco “camuflado”, que com o capuz posto desaparecia por completo naquela paisagem.

Entrei e ficamos ali numa conversa de olhares, onde as minhas perguntas de certeza nunca seriam respondidas. Pergunto-me a mim mesma o que queria saber, acho que tudo, mas não proferi uma única palavra. Apenas corta o silêncio uma vez para me dizer que se chama “Lagartinho”. Tentei não mostrar estranheza... sorri.

Naquela quietude, deixei-me dormir. Não sei precisar quanto tempo. E quando voltei a mim tinha desaparecido. Corri desesperadamente para a entrada do abrigo e chamei incessantemente: - Lagartinho, Lagartinho!!!
Olhei em volta, afinal quando é que adormeci naquele delírio mental??

Preparo-me para continuar, aqui ali vou-me cruzando com outros a quem educadamente dirijo um bom dia, e baixinho vou chamando: - Lagartinho!!

Friday, December 02, 2005

Desterrado vivo!!!

E lá ao fundo no horizonte vinha ele a coxear.... mancava muito coitado.
Gemia de dores... Apoiado numa bengalinha de pau, arrastava-se....Só mais perto é que se conseguiu ver quem era. Era o rapaz do trapézio. Aquele que morreu no pé com meia... com um lindo sorriso...

Wednesday, November 30, 2005

Num mundo diluído em 99% de música

Muitas vezes excedo-me para lá do imaginável. Sinto que tenho dentro de mim uma capacidade única de voar na expressão dos sentimentos de maneira a deformar por completo a realidade...
Com facilidade levanto os pés da terra, e parto à aventura num mundo utópico. Um mundo onde tudo está em constante transformação de espaço, som, cor e luz. O mundo da imaginação.

A minha rampa de lançamento está na mais simples melodia.
Invade sem pedir licença os meus ouvidos, corre pelas as minhas veias e espalha-se por a mim adentro. Remexe-me as entranhas, encolhe-me devagarinho o estômago e aperta-me o coração. Entro num estado de pura embriagues, um estado que entorpece os pés e faz-me dançar desajeitadamente de frente para a fogueira das especulações.


Tuesday, November 29, 2005

1980!

Passei aquela tarde sentada na casa de paredes de vidro e telhado de lona, virada para o mar. O vento batia forte contra as vidraças e o barulho da chuva ensurdecia enquanto chicoteava a lona.
Enrosquei-me em mim própria sentada na cadeira, olhei duas vezes seguidas para o livro que estava em cima da mesa, mas não tive coragem de lhe pegar, simplesmente não me apetecia.

Lá ao fundo bem baixinho parece-me ouvir no rádio Simon and Garfunkel.. era mesmo... era Mrs. Robinson. Fechei os olhos e só os abri quando me vi sentada na parte de trás do carocha azul bebé a caminho da casa da minha avó.
Enquanto percorria aquele espaço intemporal, no peito ia sentindo as saudades que me rasgavam na passagem de um tempo absurdamente rápido.

Viajei até ao tempo da minha infância. Até à casa da minha avó, onde os dias eram tão cheios que na minha pequenez pensava que a vida não chegava.
E pensei particularmente, naquela hora sagrada, a hora em que o gira disco tocava Simon, disco atrás de disco. Chegávamos da praia, tomávamos banho num pequeno saguão, e enquanto se esperava vez, dançávamos os quatro numa loucura frenética ao som de berros e de refrães decorados de tanto ouvir.
Lembro-me de pensar que o mundo era só feito para mim e para eles, e de querer que nunca acabasse. Naquele momento não precisava de mais ninguém.

Aos poucos fui regressando à casa de paredes de vidro e telhado de lona. Agora já não se ouvia o vento nem a chuva. Ouvia-se a musica ainda mais alta, alguém tinha aumentado o som.
Na mesa do lado estava sentado um senhor com os olhos cheios de lágrimas... olhei sem querer olhar, e percebi na sua deficiência porque chorava.

Monday, November 28, 2005

Caminho de Pedras




Trago nos lábios um silêncio egoísta. Um silêncio que me alheia a um mundo de beleza desigual, e me mantém submersa num mar de recordações. Recordações recentes.

Abri o fecho da tenda pelo segundo dia, estava a nevar, o corpo já me tinha dito, mas a minha mente não estava preparada, já tinha chegado até ali, e não ia voltar para trás.

O reconhecimento sazonal foi concluído pelo o Caminho de Pedras. Pedras centenárias ali colocadas desde sempre para serem religiosamente seguidas, e confiadas cegamente na confusão das Cordilheiras. Qualquer tipo de profanação é o suficiente para andar horas atrás das minhas próprias costas.

A subida fere-me os músculos quentes. Injectados a um combustível chamado sangue não permitem que qualquer pé mais teimoso deite tudo a perder, naquele momento em que tudo se quer. A adrenalina estonteante move-me em léguas imaginárias num cansaço sem oxigénio até ao topo.

No topo dá-se a contemplação de um troféu há muito merecido, olho-o horas a fio e deixo a imaginação brincar ali por perto. É meu, mas não o agarro já, porque há muito mais para ver. Há sempre mais qualquer coisa para lá de lá... e sinto-me feliz dentro daquele sentimento.

Hoje ainda sinto o frio negativo entranhado na carne, mal protegida com gortex e um saco de cama mentiroso, na pele os arrepio do momento e na cabeça a alegria das palavras mal balbuciadas perdidas em gargalhadas.

No coração a expectativa da próxima vez. No espírito... esse ficou lá... penso que à minha espera. Convenceu-se que ficaria lá para sempre... mas para sempre é muito tempo.

Friday, November 25, 2005

Um dia voarei...

Mais um dia que, imaginei que conseguia voar. Fechei os olhos e coloquei os pés no limite da terra. Exprimi-me num grito mudo que me rebentava no peito, com a mesma intensidade que o vento batia nas minhas asas.
E percorri dezenas km em 5 minutos.

abismo dos encantados

Ontem durante um sonho, afastei as mantas da cama e levantei-me. Abri a porta da rua e coloquei os pés descalços no chão gelado. Percorri os poucos metros que me afastam de um espaço que inventei, onde ninguém consegue entrar.

Abri a gaveta da velha mesa imaginária que ocupa o seu espaço total, e tirei um embrulho de pano. Dentro desse embrulho estavam as minhas mais doces memorias.

E foi então que te recordei. Uma memória doce... um Cavaleiro encantado dos nossos dias. Trocamos cartas do mais puro amor que existe na amizade. Deliciei-me com cada história que me contaste, com cada as palavras que dedicaste e cada coisa que me ensinaste. Entrei no abismo dos encantados, e nunca mais de lá consegui sair.

“... Sem responder, com os olhos injectados de sangue, o velho olhou o abismo de onde a água jorrava. Mesmo à beira o jovem esperava ansioso.
Então, como ela lhe estendesse os braços, o velho completamente desorientado atirou-a sobre o jovem, que não conseguiu equilibrar-se e caíram junto no abismo.
Um grito uníssono soou. Um grito apenas. Depois, cortando o silêncio só o marulhar das águas em catadupas...
O velho quando os viu desaparecer no abismo, recitou as palavras de encantamento (...)

Hoje que recordo, descubro que as coisas só fazem sentido no memento, e coloquei-te novamente na gaveta.

Adeus "bolachas de àgua e sal"...



Este blog foi criado, na sequência do "espatifanço total", de um outro que outrora existiu. E como não gosto de olhar para trás ou chorar sobre o que se passou, aqui está um novinho em folha, e estou tão entusiamada como se do primeiro se tratasses.