Monday, December 12, 2005

Paixões I

Mais um fim de semana. Aventureiro por defeito desdobra o mapa em cima do estirador, fecha os olhos e escolhe aleatoriamente um destino. Baixo Alentejo mais propriamente uma pequena terra chamada Luzia.
Arruma na mochila o indispensável e parte em direcção ao que o seu dedo indicou.

O comboio pára numa estação vazia de vida. O silêncio estava presente. No céu ainda podia ver a lua pálida a cair para sudoeste, empurrando a noite para os mistérios de um novo dia.
Os primeiros sinais de luz deixavam vislumbrar os campos verde infindáveis, salpicados aqui e ali de sobreiros, criando autênticas aguarelas.

Inspirou o ar fresco da madrugada e fez-se ao caminho.
Não sabia ao certo onde seria ou que teria de andar, mas não havia ninguém para perguntar e estava imparável na sua sede de conhecer.

A meio do caminho um pequeno cemitério, típico com as suas arvores simbólicas. Procurou a entrada onde um grande portão estava escancarado. Optou por entrar.
Campas antigas, muito antigas, maior parte delas datavam 1800, leu nomes e calculou idades, imaginou vidas e observou por longos momentos as fotografias. Em outro sitio qualquer seria um espectáculo macabro, mas ele não conseguia resistir, a curiosidade elevava-se a qualquer bom senso.

Mais ao longe algo lhe chama a atenção. Uma campa enorme marmoreada modernamente destacava-se das demais. Lentamente aproximou-se.

Era a campa de um poeta morto. Na lápide tinha inscrito um soneto da sua autoria. Ao lado uma dedicatória de amor, de um grande amor por sinal. Procurou um papel e uma caneta, e ali mesmo, sentou-se no chão e com a campa a servir de apoio transcreveu o soneto, que em cinco minutos foi liberto pela tinta que ia secando na folha de papel...

1 comment:

Kiau Liang said...

POdes não acreditar mas sempre que levo a minha avó ao cemitério, entre flores, campas, água para as jarras, e algum malabarismo para decorar as flores para pessoas queridas, dou por mim a adinhinhar a vida das fotografias dos desconhecidos que já partiram