Monday, April 24, 2006

22 e 23 de Abril de 2006

Atravesso o portal das palavras e não consigo escrever uma só que seja. Frases que não se consigo construir porque não sei descrever...
Foram dois que se transformaram em quatro e quatro que se transformam em oito. E oito foi o derradeiro numero para sentir uma enorme sensação de querer rebentar e ficar ali descoberta em vário pedaços vivos distribuídos pelos mil sítios que os meus olhos tentar registar em vão por serem demasiado humanos. Não vou conseguir escrever ou descrever o que quero, simplesmente está fora do meu alcance porque é intensos demais e tenho receio de não empregar as palavras correctas e induzir em erro.

Poderia falar do cheiro e do aroma... das arvores molhadas do chão encharcado e da chuva que não pára de cair. Poderia falar das vozes que soam das matas dos pinheiros e do silencio que ecoa os meus passos que raspam na paisagem à minha passagem. Poderia falar na magia da noite e do céu que desenha lindas formas em nuvens negras...

sim poderia falar disto tudo e criar uma linda história. Mas o corpo está cansado demais para aquilo que esconde por dentro. A mente não consegue acompanhar o sentimento... e as palavras nunca serão suficientes para consignar tal momento.

Por isso devagar e com muita calma vou regressando. Olho com estranheza os elementos que fazem parte do meu dia a dia e dou por mim a sorrir, imagino que viajei durante anos e quando regressei nada tinha mudado. Observo as pessoas com a sensação que nunca saíram do mesmo sitio e vagamente vou-me lembrando de cada uma delas e do papel que representam na minha vida (...)

quase que me apetece tatuar esta data num dos braços :-)

Friday, April 21, 2006

Gavetas e mais gavetas

Por vezes dou por mim a pensar que sou constituída por gavetas. Infinitas gavetas que formam olhos boca nariz e pescoço. Braços pernas e todo o resto do corpo. Infinitas gavetas cheias de sentimento que construíram um coração, e infinitas gavetas de várias das cores e feitios que formam todo o resto. Alguma não se abrem ou nunca se abrirão...Ficarão para sempre à espera que eu própria saiba distinguir o derradeiro momento para o fazer. E se não tiver tempo na intensidade em vivo os meus dias, a alguém um dia as transmitirei e acredito que seja feito através de mim...

Porem existem duas que nunca me lembro de as ver fechadas. Uma é completamente indescritível e são muitas as vezes em que inexplicavelmente entro no seu interior à procura de resposta mas apenas ainda trago mais dúvidas. A outra empenou ou simplesmente é grande de mais para caber no seu lugar. E por mais coisa que tente guardar coisas no seu interior nunca fica cheia. Tem sempre espaço para mais e mais. E sempre que procuro algo dentro dela encontro sempre, posso demorar alguns minutos e chegar a pensar que se perdeu, mas não ela está sempre lá, aberta à espera que coisas novas entrem e ocupem o seu espaço no meio de tão pouco espaço. Chamo-lhes coisas mas tem nome... que começam por várias letras. De A a Z...

Wednesday, April 12, 2006

O livro que chegou ao fim!

O livro que chegou ao fim. E outro que pulam na estante pela atenção dos meus olhos e pelo toque dos meus dedos. Já os li todos e alguns mais do que três vezes. Tenho livros assim, que entro de tal maneira nas história que depois não consigo distinguir. Digo a mim própria que tenho que os voltar a ler para perceber a história quando no fundo já tinha percebido, apenas quero é repetir a aventura sem ter que me justificar. E agora ficam ali arrumados nas prateleiras a amarelar com o passar do tempo e ganhar o cheiro das letras encafuadas. Mas gosto de os ver ali expostos por cores e alguns por números. Por vezes sento-me no sofá a observar a minha mini biblioteca e imagino que são as minhas aventuras catalogadas por ordem de vivencia.

O livro que chegou ao fim. E na estante da mini biblioteca não existe nenhuma novidade. Já os li todos e alguns mais do que três vezes. Mas tenho outros que começo a ler e depressa abandono as personagens num mundo suspenso das suas desinteressante histórias.

Peguei num desses livros e sentei-me no jardim que geralmente me convida para umas horas de leitura. Recostada no banco de madeira verde coloco no colo o desinteressante livro e espero que a vontade chegue. Sem dar por isso um rapazinho que parecia ter nove anos sentou-se ao meu lado. Olhei e esbocei um simples sorriso. Devolveu-me o sorriso com um dente partido. Entreguei-me novamente a pouca vontade e pensei que estaria na hora de abrir o livro e dar uma nova oportunidade as aquelas pobres personagens.

- Sabe o meu avô está muito doente.
Fechei o livro
- Sinto muito
- Eu também.

E o rapazinho continuo. Com um som assobiado que surgia do dente partido narrou sua vida vivida nas histórias mágicas que o avô lhe contava. E comecei a conhecer essas histórias, quase ao pormenor de lhes conseguir acabar as frases... parecia as que outrora imaginara e tinha a certeza de não as ter lido em livro algum.
Olhei para as minhas mão estavam mais pequenas, vi os meus miúdos joelhos rasgados das quedas de bicicleta mal coberto com a saia que a minha mãe fazia a condizer com a camisola.

Sem dar por isso tinha entrado na maquina do tempo e regressei aos meus nove anos, o banco verde desapareceu e o jardim tornou-se em mato pronto para ser desbravado em buscas de anéis e elfos encantados. O mesmo menino deu-me a mão e Disse – “Anda!! ainda não viste o que está dentro daquela gruta” e corremos de mão dada em direcção a uma mirabolante aventura.

O livro das personagens suspensas nas suas histórias desinteressantes caiu ao chão. Abri os olhos e estava sentada no banco de madeira verde... sozinha. Olhei em redor e nem sinal do rapazinho, só podia ter adormecido e sonhado. Inclinei-me para apanhar o livro, e abriu-o no colo..
Comecei a folheá-lo para procurar a ultima página que tinha lido... e a medida que as passava uma a uma diziam “fim”...

Thursday, April 06, 2006

Rostos




Porque o tempo não pode voltar atrás e as lágrimas não recuam. A vontade é reprimida e o grito mudo. O estômago revolta-se com as sensações e o coração dispara. É como se estivéssemos apaixonados mas é muito melhor do que isso.

Porque viajamos sozinhos em mundos que pensamos ser só nossos, mas por lá encontramos outros iguais a nós próprios. Um mundo onde a imaginação e a fantasia reinam lado a lado governando pequenos seres que nos encantam e respiram pós mágicos.

Porque adormecemos sobre o que não nos interessa e levantamos os pés para um voo do qual não queremos voltar. E quando somos obrigados a regressar deixamos por lá sempre qualquer coisa. Eu deixo. O meu espírito que é tão teimoso e rebelde. Depois quando me tento concentrar, sussurra-me palavras enfeitiçadas ao ouvido, levando-me a mente e o coração, deixando-me apenas cheia de correntes de ar...

Mas a verdadeira magia está em saber que por detrás de palavras escritas, sentidas e faladas existe sempre um rosto vincado em feições. Um rosto que ri, chora e envelhece como o meu...