Wednesday, September 27, 2006

Solta-me...

Estou à espera. Pacientemente mas estou. Não sei o que me espera. Mas estou expectante com um espírito rebelde e sem ordem que já me irrompe o peito e segue em frente a verificar o terreno. O sangue já me corre nas veias a uma velocidade perigosa demais. Mistura-se com a adrenalina ainda não experimentada e escorre em vermelho vivo pelas paredes do tempo vindouro.

Já me estranho a mim. Já estranho o espaço. Já estranho as pessoas que me prendem a uma distancia de pouco dias. Já não as consigo ouvir. Apenas consigo semicerrar os olhos e tentar olhar bem longe até conseguir ver o depois de amanhã. "Quero voar!"
Pendurados nos meus cabelos "aqueles" embalam-me em historias presentes. As de hoje. Simplesmente as de hoje... uma de cada vez!!

Sorriso. Sorriso preso nuns lábios que se perdem nos cantos da face. Pé que cambaleia para a frente e para trás. Desordem alinhada no coração. E estou presa apenas num fechar de olhos que me faz sentir sempre como se fosse a primeira vez que vou... apenas presa por um finíssimo fio.

Não sei como vou regressar. Não sei se quero regressar.

Solta-me... faltam três dias!!

Thursday, September 21, 2006

O homem com um lobo gigante!

A noite caiu. O silencio chegou. A cidade está escura. Bem alta, a noite, já corre no tempo adormecido em direcção a um novo dia da semana. É quinta-feira.
O Silencio da noite que viaja por estradas vazias. Por entre as torres e as lojas fechadas. Pelos muitos carros estacionados e alinhados. Por bancos de jardins presos. Por pracetas e pelo prédio da rua direita com vista traseira para os muros altos de um colégio francês.

Devagarinho o silencio vai subindo pelo prédio da rua direita ao minuto exacto que as luzes das janelas se apagam. Dão-se as boas noites às velhas rotinas e suspira-se por outras. Hão-de ser sempre velhas. Amanhã volta o ciclo... Sempre o mesmo ciclo.

Devagarinho o silencio sobe pelas as escadas e invade o primeiro andar esquerdo do prédio da rua direita. Entra pela fechadura, trancada a três chaves, que protege o apartamento de três assoalhadas. Todos dormem profundamente. Respiram calmamente em sonhos inconscientes. Uma sala. Uma cozinha ainda com odores recentes de sopa, de pão quente e de batatas fritas. A mesa continuou posta. É para pequeno almoço, de manhã não há tempo a perder. O quarto do pai e da mãe.

O quarto da menina e do rapazinho. O silencio brinca com as sombras causadas pela fosca luz da rua que invade a divisão pelos estores mal corridos. Transformam os brinquedos em outros brinquedos e dão-lhes vida em outras formas na parede amarela. Percorrem todos os cantinho do quarto. Sentam-se na cama da menina. Está de olhos abertos. Encaram-se os três. A menina, o silencio e a sombra.

A menina grita. O rapazinho acenda a luz e o pai parece. O silencio desaparece no meio das perguntas e as sombras voltam aos brinquedos.
- Um homem com um lobo gigante” Diz a menina apontando para a parede. O rapazinho ri. E o pai manda-o calar.

Apertou-a a sua pequenez contra o seu corpo. Afagou-lhe os caracóis castanhos e beijo-a na cabeça. A menina chora. O pai pega-lhe na mão. Levantam-se os dois da cama e o pai puxa-a. Ela recua. Não quer ir. Não quer ver. Lentamente o pai puxa-a para si e pega-lhe ao colo. “- tens que ver o que não existe

Agora descalços os dois percorrem a casa, juntos de mãos dadas. O quarto, onde a mãe cansada e sem paciência descansa da rotina de bibes, almoços banhos e jantares... não sabe que procuram um homem com um lobo gigante. A sala.
Na sala apagam as luz e sentam-se os dois debaixo da enorme mesa de madeira. Agora estão em silencio. Esperam. A menina aperta a mão do pai com força. O pai esconde a sua mão na dele. E ficam ali. Um coração disparado. Um outro transbordado. Vêm as sombras a regressar com a luz da rua que invade novamente a assoalhada. E sentem o silencio. Sorriem nas formas fantasmagóricas da parede azul. Fazem as suas próprias sombras. Imaginam mil seres.

Um carro pára por debaixo da janela... as luzes dos faróis batem nos muros do colégio francês e reflectem na janela. O homem com lobo gigante aparece.

Deitada na cama já adormecida, o pai contempla-lhe o sono tranquilo e sossegado. Passa-lhe mais uma vez a mão pelos caracóis castanhos. Ouve a sua voz sumida da menina.
- Quero casar e ficar contigo sempre... para nunca mais ter medo

Ficaram juntos para sempre. O pai continua a contemplar-lhe o sono. E a menina nunca mais teve medo.

Monday, September 18, 2006

Pedacinhos felizes

Cinco duendes. Cinco duendes felizes que dançavam por entre as estrelas brilhantes caídas no chão. Cospem fogo e tocam musica. Cinco duendes felizes vestidos de preto. Fogo frio que lhes arde no corpo. Fogo preso que lhes alimentam a alma. Paixão na primeira troca de olhares...

Seis Duendes. Seis duende felizes que dançavam por entre a melodia de uma flauta feita de cana. Cospem água, apagam o fogo. Seis duendes felizes. Cinco vestidos de preto e um vestido de verde. Fogo que arde no olhar, intensidade que explode no coração...

Cinco senhores. Cinco senhores felizes que dançavam por entre um banquete feito de açúcar. Falam numa língua que não entendo. Tocam-me na mão num sentido que percebo. Sorrimos por entre dentes luzidios no espírito de uma lua ausente. Paixão pelo momento. Chá quente de menta. Bolachinhas de sésamo. Fechar de olhos...

Seis senhores. Cinco senhores vestido de veludo branco e um vestido de vermelho. Oferece magia num copo com desenhos dourados, tapado com flanela transparente... Olho para dentro do copo e agradeço o momento.

Cinco amigos. Cinco amigos sentados na areia da praia. Trocavam palavras jogadas ao vento numa noite coberta de frio. Caiam estrelas desaparecidas em desejos comuns. Gritámos à brisa e tornámo-nos num só. Um ser completo sem o qual não consigo respirar...E o momento continuou, continua... e continuará...

Wednesday, September 06, 2006

As medusas!!


Existem aqueles que lhes chamam “alforrecas”. Eu pessoalmente prefiro chamar-lhes "Medusas". Talvez o nome me faça lembras “Musas”. Aqueles seres sobrenaturais e míticos que existem apenas em contos. E como é natural no meu Eu, é o que basta para transformar tudo numa viagem encantada.

Trocamos noite por dia. Trocamos horas confirmadas num imaginário relógio de sol. Paramos o tempo e esquecemos tudo aquilo que estava por detrás da altíssima parede composta por pedra, pó e vegetação que nos separava da civilização. E vislumbrei aquilo que apelidei de “Paraíso”. Andámos dois dias como os caracóis. Viajamos como o essencial as costas para sobreviver. Só isso foi o que bastou.

Tudo aconteceu no segundo dia em que assentamos arraiais em plena praia vazia de anos e almas humanas. As pegadas vistas pareciam fosseis que existiram há séculos. Parecia que por ali o tempo era apenas regida pela acção do vento e da maré. Ambos esculpiam como ágeis mãos de escultor sábio, formas e volumes nas rochas e areia. E o que mais me fazia sorrir era a sensação de ter os olhos das estranhas criaturas daquele habitat pregados no corpo com uma curiosidade voraz.

A noite estava quente demais para suportar o corpo comprimido contra a areia adormecido num sono tranquilo. E realmente uma agitação pairava no interior do meu peito que me fazia arregalar os olhos. Todos dormiam. Olhei o mar e decidi em fracção de segundo sentar-me mais perto da costa para apanhar uns farrapos de brisas fresca. Sentei-me e observei todo aquele ambiente. Murmurei pelos dias futuros em que iria ter saudade daquele momento. O que já está a acontecer. Deixei por fim a minha imaginação brincar no murmurinho das ondas que batiam a beira do mar.

Ouvi uma voz silenciosa. Seguida de um canto nunca antes ouvido.
Daqueles que só se ouvem quando se está na hora certo no sítio certo. Olhei em volta para procurar de onde vinha aquele canto sem lábios e os meus olhos prenderam-se nuns seres magníficos que deslizavam na suave maré. Tão lindos e tão intocáveis, aqueles seres de nome “Medusa”.
A lua suspensa em prumo produzia reflexos de luzes e cores nos seus corpos transparentes e nos seus múltiplos braços, que me trouxeram à memória cabelos à deriva, deambulavam num jogo de casamento eterno. Um jogo alucinante que alimentam os olhos daquilo que é belo para sempre.

No paraíso onde as "Alforrecas" são tratadas por "Medusas" existem cores que enquanto a vida soprar em mim nunca vou conseguir definir um único nome que seja para lhes atribuir. Violeta alaranjando. Amarelo dourado... não. Não consigo.

Dei por mim consumida num sentimento invejoso... invejei-as... adormeci...