Tuesday, December 20, 2005

Obra inacabada...

Sentou-se no canto oposto da sala. Observou a grande tela branca de dois por dois metros que se encontrava à sua frente. Naquele dia ainda não tinha dado com um pingo de inspiração. O que fazer num espaço branco tão vazio.

Tinha um tique nervoso... a boca não parava. E tornava-se cada vez mais intenso com o passar do tempo.
Nos seus 50 anos de vida, já muito tinha conquistado. Uma vida sossegada, tranquila e cheia de sucessos e inspirações. Amores é que teve poucos ou nenhuns. Colocava sempre as culpas no seu tique, nenhuma mulher gostava de ser beijada por ele, aliás olhavam-no quase como uma aberração.

Por isso canalizou tudo para aquilo que melhor sabia fazer e amava... prendia os seus sentimentos em óleos, e emoções em aguarelas. Poucos eram aqueles que interpretavam da melhor maneira as suas obras, não o compreendiam.

Naquele dia ainda com a tela em branco, lembrou-se da sua cor favorita. Misturou na paleta o azul com o amarelo e cobriu a grande área branca na sua totalidade. Representou a infância com nuvens em formas infantis, as amizades com um sol brilhante e intenso, amores e paixões alheias com uma lua cor de laranja. As conquistas representou-as com um grande mar de horizonte delineado, frustrações com arvores despidas e a tranquilidade com um anjo...

Depois voltou ao canto oposto da sala e observou durante um longo momento o que tinha feito até ali... estava inacabada, claro que estava inacabada... o destino ainda lhe reservava muitas coisas e era impossível representa-las no presente. Seria a obra da sua vida. Desta vez não assinou no canto inferior direito...

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