Monday, November 28, 2005

Caminho de Pedras




Trago nos lábios um silêncio egoísta. Um silêncio que me alheia a um mundo de beleza desigual, e me mantém submersa num mar de recordações. Recordações recentes.

Abri o fecho da tenda pelo segundo dia, estava a nevar, o corpo já me tinha dito, mas a minha mente não estava preparada, já tinha chegado até ali, e não ia voltar para trás.

O reconhecimento sazonal foi concluído pelo o Caminho de Pedras. Pedras centenárias ali colocadas desde sempre para serem religiosamente seguidas, e confiadas cegamente na confusão das Cordilheiras. Qualquer tipo de profanação é o suficiente para andar horas atrás das minhas próprias costas.

A subida fere-me os músculos quentes. Injectados a um combustível chamado sangue não permitem que qualquer pé mais teimoso deite tudo a perder, naquele momento em que tudo se quer. A adrenalina estonteante move-me em léguas imaginárias num cansaço sem oxigénio até ao topo.

No topo dá-se a contemplação de um troféu há muito merecido, olho-o horas a fio e deixo a imaginação brincar ali por perto. É meu, mas não o agarro já, porque há muito mais para ver. Há sempre mais qualquer coisa para lá de lá... e sinto-me feliz dentro daquele sentimento.

Hoje ainda sinto o frio negativo entranhado na carne, mal protegida com gortex e um saco de cama mentiroso, na pele os arrepio do momento e na cabeça a alegria das palavras mal balbuciadas perdidas em gargalhadas.

No coração a expectativa da próxima vez. No espírito... esse ficou lá... penso que à minha espera. Convenceu-se que ficaria lá para sempre... mas para sempre é muito tempo.

1 comment:

Kiau Liang said...

se na proxima lua eu me cruzar com o teu espirito posso lhe levar recordações tuas, e trazer as dele, as que deixaste por lá...