Geralmente engulo o almoço demoradamente, em amena conversa com duas boas companhias. Mas hoje não foi nada disso que me aconteceu... fui almoçar sozinha... e como é normal para quem se senta sozinho numa mesa de quatro lugares, tem que partilhar a refeição com quem não conhece. O que maior parte das vezes é proveitoso no sentido das coisas que se aprende em conversas ocasionais com pessoas diferentes. E sinceramente até aprecio bastante.
Via-a chegar... aliás todos os que estavam no restaurante viram-na chegar... Vestia um enorme casaco de pelo de raposa (penso eu). A cor da pele era difícil de adivinhar devido às várias camadas de maquilhagem. O cabelo amarelado com umas madeixas roxas completamente armado e enfeitado com brincos e colares ofuscantes. Sentou-se ao meu lado. Olhou para o meu prato e encolheu a cara repugnada... (até ali não fazia ideia que uma simples sopa era assim tão repugnante.)
Pediu-o o que tinha que pedir, e como já estava a demorar muito pôs conversa comigo. Encarei-a e imaginei-a nua com cara de raposa. Não reprimi um sorriso. Começou imediatamente por me contar de onde era, descrevendo ao pormenor o todos os seus luxuosos bens materiais. Revelando ainda que o marido era dono de uma empresa qualquer.
Retirou da mala um cartão e esticou-me a mão dizendo que se precisasse de alguma coisa era só telefonar para ele. (Pensei que no mínimo lhe telefonaria para dar os sentimentos.)
Numa alegria eufórica, e com a voz num tom bem alto não fosse alguém não conseguir ouvir, falou-me das festas, das compras que fez e das que iria fazer naquele dia. Falou das viagens ao Brasil, e àquela cidade que não se lembrava do nome, onde foi ver uma exposição de quadros horríveis com bois. (Pobre Picasso, que barbaridade).
Falou-me ainda dos concerto que costumava frequentar. E foi então que o restaurante desmoronou-se em cima de mim quando ela começou a recitar Tony Carreira. “– A menina não conhece!?” Exclamou espantada... (quase pensei que era sacrilégio andar sem um CD do dito no carro).
Voltou a olhar para a minha cara de incrédula. Depois calou-se. Perguntou-me de onde era.... quando eu ia abrir a boca para lhe dizer que não era de lado nenhum porque não tinha intenções de iniciar uma nova conversa ... voltou a olhar... olhei-a bem no fundo dos olhos, estava vazia... e senti uma enorme tristeza. Mas não sei se por ela se por mim...
H. e C. voltem depressa... estão perdoados...
Kiau! ainda bem que não estavas comigo. Se não tinha sido uma macacada pegada de tanto rir...
Kiau! ainda bem que não estavas comigo. Se não tinha sido uma macacada pegada de tanto rir...
17 comments:
Minha linda, ainda não ia a meio e já estava a imaginar as macacadas....
Deves-me um almoço........
Engoli a sopa às golfadas... e o arroz pelo nariz...
...e nunca mais vou esqueçer aquela pobre raposa...
O mundo é giro de observar não é?
Outra música na minha cabeça:
"Jisas yu holem hand blong mi..."
- tu és estranho sabes?
- é a tua opinião...
- não achas mesmo que alguém ouve isso sem seres tu?
- alguém deve ouvir...
- sim, numas ilhas do outro lado do mundo...
também tenho o hábito de me sentar na mesma mesa em que fico no primeiro dia que vou aos sítios...
começou a falar contigo do nada?
pessoas estranhas.
ou não.
pessoas vazias...
a tristeza só podia ser por ela... tipico de 'imagens'.
bjs
O mais importante para mim foi reflectir sobre mim a partir de ti. Eu fujo das pessoas quando sou apenas eu, e não eu a trabalhar. Quando sou apenas eu sou um bocado fechada e provavelmente fugiria a sete pés de uma mesa que seria momentaneamente habitada por desconhecidos, estranhos ou não, com quem teria forçosamente que falar. Se fosse preciso iria a outro lugar, longe do mundo. Muito interessante... achares piada a isso. Talvez, quem sabe, um destes dias...Continuo a acreditar que vamos sempre mudando.
Ando um bocasdinho atrasada. deixei-te também um comentário à estória anterior. Beijo.
Apesar de um único sorriso que esbocei... só consegui sentir tristeza do principio ao fim... e frases soltas bailavam na minha cabeça para inventar uma desculpa de saída...
Sabendo de antemão que se não estivesse sozinha as coisas teriam acontecido de maneira diferente, e pressupostamente nem lhe teria dado a devida importância...
Eu...eu...estou sem palavras...
pois já tinha percebido...
Obrigada pela insistência/resistência e pelo carinho!!!
beijinho e um bom fim de semana p ti!
Bom fim de semana :-)
Hoje surpreendeste-me, não sei se foste ao google ou se conhecias mesmo...mas fiquei surpreendido de qualquer forma...muito...
sabes, nem é dificil visualizar, qdo penso tudo o q deixei para ser apenas eu, minha consciencia e ter um sorriso feliz, sei perfeitamente o que viste.
bjs
Que saudades tinha de voltar...a ler-te...
Meio mundo a ver cenas em restaurantes e o outro meio a vê-las dentro do 42 ou do 26 ou do 59 ou do 103...
As pessoas da rua, são altamente descritíveis e interessantes. Não me interessa mais nada, mas sim aquilo que vejo através de tudo o que as cobre, ainda que veja só aquilo que quero ver, para escrever.
Realmente muito estranhos esses "mundos" vazios...
Adorei o post !!
bjs
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