Friday, January 20, 2006

Um lindo cisne...

Lembro-me de querer ser bailarina. E mesmo muita pequenina sonhava em ser “Prima Bailarina”. No meu quarto voava em passo inventados por todo o seu espaço total. Pegava nas panteras, ursos e coelhos de peluche e atirava-os ao ar em movimentos elegantes próprios da feminilidade de uma menina.
Os “pinipons”, “barriguitas” e “estrunfes azuis” serviam de publico, que aplaudiam com furor, a cada reviravolta dada na ponta do dedo do pé.
Ao fim de tanta palhaçada em frente ao espelho, e horas passadas em danças imaginárias com bonecos que não se queixavam do cansaço, os meus pais inscreveram-me nas aulas de ballet.

Todas as tarde sentava-me no passeio perto da escola meia hora antes. Não fosse eu chegar atrasada. E recordo como se de cima me estivesse a ver com cinco anos... com as minhas botinhas ortopédicas, cheias de memórias das canelas dos rapazes, uma saiinha plissada em xadrez, a chupar um granizado gelado de ananás. Acompanhada claro por um grande saco da “Betty Boop” cheio de equipamento de ballet...

Ensaiámos na nossa pequenez até à exaustão para um grande espectáculo que iria decorrer no Teatro Nacional D. Maria II.
Estávamos radiantes. Basta imaginar quarenta meninas juntas, com cinco anos, e ainda por cima histéricas com descoberta de uma nova magia de bastidores, camarins, maquilhagens, roupas e todos os adereços que a ocasião proporciona.

O espectáculo começou... mas esqueci-me de referir que segundo a “Mestra” eu sofria de um grave problema... era canhota... e então fazia os chamados “pliés” ao contrario.
Durante todo tempo até ao grande dia, lutei com a minha própria “canhotice”. Pintava a mão com cores ou atava lenços à volta do braço, de maneira a concentrar-me qual subiria em forma de arco.

Entretanto subimos ao palco, fofinhas e anafadinhas, dentro de uns fatinhos que imitavam cisnes. Sob um fantástico jogo de luzes e um publico enorme, correu tudo na perfeição... até à parte final do espectáculo.
Mesmo quando a excitação estava ao rubro, é que a minha verdadeira natureza venceu.

A peça terminava com os cisnes todos em cima do palco em “plié” virado para a direita... e mesmo no meio lá estava eu... um pequeno cisnes com um enorme sorriso a destoar com um “plié” virado para esquerda. Naquela adrenalina infantil jamais reparei na “Mestra” vermelha de raiva a esbracejar....

Rapidamente comecei a suspeitar das desculpas que os meus pais arranjavam para não regressar às aulas de ballet. Um dia o meu pai chegou com um grande embrulho debaixo do braço. Sentamo-nos ambos no chão e ajudou-me a desembrulhá-lo... eram as minhas sapatilhas de ballet emolduradas num lindo quadro cor de rosa. Recordo-me que não chorei...

Peguei na bicicleta e fui brincar com o Miguel, aquele que ficava tardes inteiras à minha espera, e eu nunca aparecia por causa das aulas de ballet. Recebeu-me de volta de braços abertos, e disse-me que eu era o cisne mais lindo que alguma vez tinha visto. E pedalamos em corrida até ao fundo do quintal...

6 comments:

rspiff said...

Bonitas recordações :-)

Eu sonhava ser super-herói...com o tempo fui me apercebendo que tal podia não acontecer...hoje estou quase certo disso, quase...

rspiff said...

Eu nunca me esqueço...o difícil é arranjar um equilíbrio entre os dois mundos...não prescindir de nenhum deles e ser feliz :-)

rspiff said...

ah, bom fim de semana também :-)

Madame Pirulitos said...

Fiz 9 anos de ballet. Sei o que isso é! As mestras serão sempre assim? A minha também o era. Chamava-se Amélia. Também me levou a desistir. Demasiado maria-rapaz, dizia. Agora tenho saudades...

Tens uma música à tua espera no puro.

miak said...

Ao contrário dos outros.

Sentimento familiar...

mfc said...

Mas não é assim mesmo a memórias: uma gigantesca colecção de ilusões desilusões e delusões? E também de vitórias e coisas boas.

MAs é bom recordar. Mesmo as coisas más. E o que é contra-natura era a Mestra tentar contrariar aquilo que és.