Thursday, January 19, 2006

De regresso a casa...



Acordava todos os dias com a carne congelada e encharcada até à alma. Com os ossos perros a desdobrarem-se num barulho de porta velha, acendia a lareira num fogo que lambia a madeira em segundos. E aquecia-se.
Permanecia por horas dentro da casa, não fosse aquilo ser irreal. Porque qualquer movimento em chão falso, era o suficiente para cair, atravessar a fronteira dos mundos e nunca mais conseguir voltar. Era ali que se sentia bem.

Lá fora nos bosque e florestas brancos, brincam em histórias e fantasias os seus companheiros fictícios, inspirados em personagens fantásticas de notável beleza.
Na utopia da neve, raramente entravam príncipes ou beijos. Apenas uma única vez imaginou uma criatura vinda de outro mundo , que num beijo profundo a conquistou aprisionando-a em castelos feitos no vento... vento que se tornou em brisa. Gostava antes de se imaginar como uma substância incorpora.

Ela própria tinha a seu cavalo de gelo, que igualmente se alimentava de sonhos... era ele quem a transportava naquele devaneio. Flutuavam naquele mundo de neve até caírem na exaustão. Acontecia muitas vezes ultrapassarem o limite das nuvens, e perante um sol quente o cavalo de gelo derretia fazendo-a estatelar-se no lado de cá... felizmente no lado cá pouca coisa tinha que a fizesse permanecer por muito tempo, sentia-se livre por isso mesmo, e era essa liberdade que a elevava numa viagem de volta aquela que considerava a sua verdadeira casa....

6 comments:

rspiff said...

poucos conseguem viver entre dois mundos...só quem sabe palavras de magia...

e a criatura que a aprisionou? o seu destino pode ser contado?

Kiau Liang said...

desapareceu-lhe do peito, da mesma forma que apareceu....

mfc said...

Como é possível que alguém se enamore de outra alguém que vive dentro dele, ou como continuar a escrever se as nossas mãos foram cortadas.

Numa casa cheia de gatos.

kolm said...

Quando imaginamos ou idealizamos com tal intensidade, que chagamos a correr o perigo de não conseguir distinguir...

rspiff
Fez um castelo real de pedras frias. Construiu uma torre que quase tocava no céu e esperou pela brisa... que nunca veio...

kiau
Desconfio nunca desaparece complemente...

rspiff said...

um final triste...ele parecia amá-la...

Madame Pirulitos said...

Acho também bonitos os finais tristes. Talvez nem sejam finais. Não que deseje sofrer, mas sinto que esses é que nos fazem crescer...e escrever assim.