Tuesday, February 14, 2006

Elas as duas...


Estavam ambas sentadas à minha frente. Na mesa da esplanada que se encontra mesmo virada para a praia. Um fim de tarde morno, que proporciona o aconchego na cadeira e um sorver de palhinha na lata de chá gelado, para ouvir mais histórias realmente fantásticas, durante tempo indeterminado.

Sempre as conheci assim, e não as consigo imaginar em outra idade. Talvez seja o meu amor por ambas que me tolda os olhos para ficar eternamente com a mesma imagem... uma morena e uma loira... uns olhos castanhos e uns olhos azuis...

Todas as vezes que nos encontramos as três é para recordar, ou melhor para elas recordarem e eu ouvir... contam autênticas fábulas para crianças saídas de histórias verdadeiramente vividas por ambas, em outros tempos mais longínquos.

Imagino-me sempre a mim como uma das personagem que vive todas aquelas extraordinárias aventuras num espaço físico que tão bem conheço. Invento uma irmã que não tenho e sento os meus irmãos num banco à espera de uma aventura em que os rapazes também entrem. Por vezes vou à caixinha das memorias buscar as imagens que vi nos retratos sépia espalhados pelos vários apartamentos, e convido-as a virem também.

Completam as frases uma da outra falando em código de meninas que não entendo, e riem sonoramente sem parar... até às lágrimas. Falam de nomes infantis, que apenas conheço já em adultos... e torna-se difícil imaginar esses mesmo adulto, que hoje estão condicionados pelos movimentos da idade a subirem às arvores e aos telhados, correrem pelos montes distantes e roubarem caramelos na mercearia.

Em algumas ocasiões, de frente para ambas apenas consigo sorrir daquilo que não percebo... porque existem coisas que não se conseguem explicar, somente se conseguem viver ou imaginar... sorrio porque vou achando graça aos adjectivos que utilizam para descrever pessoas, ou um tempo em que alguma coisa muito importante aconteceu.

A história que mais gosto é faço sempre questão que a repitam para finalizar o encontro, é a do Circo. Em que um Edmundo qualquer que elas conheceram, num dos anos em que o Circo desceu à aldeia, se apaixonou perdidamente pela mulher barbuda, e fugiu na sua caravana.
Já a sei de cor, mas parece que sempre que a contam lembram-se de um qualquer pormenor novo. E contam-na com o mesmo entusiasmo e ênfase, numa mistura de risadas demoradas... às quais as minhas se juntam...

São elas... somos nós três... é o fim de tarde morno e ameno... pequenas homenagens a adultos com nomes infantis e a pessoas que já não existem... são espaços pequeníssimos de tempo... que tornamos imortais a cada encontro...

Para M. e T.

3 comments:

miak said...

Kolm...

Fico feliz por escutares tantas "delícias"...

rspiff said...

One by one, the guests arrive
The guests are coming through
The open-hearted many
The broken-hearted few

And no one knows where the night is going
And no one knows why the wine is flowing
Oh love I need you
I need you
I need you
I need you
Oh . . . I need you now

And those who dance, begin to dance
Those who weep begin
And "Welcome, welcome" cries a voice
"Let all my guests come in."

(...)

Kiau Liang said...

Tou cheia de ciumes.....

Até porque andamos à 3 meses para ir beber café