Monday, February 20, 2006

amicitate...


- Estás a dormir?
- Não consigo... estou com medo...
- Estás com medo de quê? (Indagou irritado)
- Não ouves o vento a chuva... e escuta... granizo... isto não vai aguentar...
- Pelos vistos este não se incomoda! (gracejou nervosamente)
- Pois... mas poderia cair o mundo que ele nunca acordaria...
- Descansa que com o peso de nós os três isto não voa de certeza...
- E com o peso de dois... aqueles que estão ali ao lado... será que aguenta?! (retribuiu exaltada)...
Olharam aterrorizados um para o outro...
- Alguém!!!
Gritou. Não obteve resposta.
- Alguém!!!!
Gritou. Voltou a não obter resposta.
- Que se passará. Não consigo ouvir nada... vou sair...
- Espera... se ambos sairmos daqui, de certo isto voará tudo, e levará consigo o que dorme... sozinha não resistes...
- E então os outros...

O Barulho da tempestade de encontro à lona, era ensurdecedor. Fustigada por ventos vindos em todas as direcções, acompanhado por rajadas de um granizo voraz, não aguentaria nem mais uma lufada.

Ela estava seca de tanta angustia. Só poderia contar com a destreza daquele que neste momento tinha os olhos injectados de sangue, perante tanta impotência. Perante um inimigo que idolatrava. Perante quatro vidas mais uma... a sua que daria pelos os outros...

- Temos que sair daqui os três ao mesmo tempo! (disse por fim)

Acordou violentamente o do sono pesado... estremunhado ouviu com atenção o que os dois lhe relatavam. Preparam-se para levar apenas o essencial... a roupa do corpo e os impermeáveis... e como que numa corrida cronometrada, abriram os fechos e saltaram os três ao mesmo tempo. Rebolaram paralelamente pela chão de terra preta. Mole...

Rapidamente uma língua de vento invadiu o interior da lona. Arrancadas como palitos de madeira frágil as estacas, que saltaram uma a uma. E num fechar de olhos, desapareceu velozmente no ar, levando consigo tudo o que estava no seu interior.

Os outros dois do lado, lutavam insolentemente com o vento. Não restou nada. Arrastados pelos demais resmungaram. Se deixassem teriam voado também...

Com a roupa ensopada, e os impermeáveis que se tornaram inúteis, deixaram-se ficar até onde tinha conseguido correr pelo caminho. E pediram protecção às acácias... Olhavam na mesma direcção estranhamente impávidos... maravilhados...

7 comments:

rspiff said...

Admira-se o que se teme, teme-se o que se ama, ama-se...ama-se o mundo à nossa volta...

O jardim foi-me oferecido...não o reconheces?

Madame Pirulitos said...

Inquietante. A atracção pelo abismo. O fascínio pelo risco. A serenidade interior não existe.

miak said...

Deixo a profundidade de um comentário originalmente complexo. Fico-me pela delicadeza. Pela confissão de sensações...ao ler-te.

mfc said...

E pousaram-se nas acácias e voaram com elas.

rspiff said...

Não o reconheces mesmo? Estou a perder capacidades descritivas? Ou estás apenas distraída?

inBluesY said...

não entendi ?
ninguém entendeu !
que dois ?
.... please :)))

rspiff said...

Pelo visto a inspiração pode mesmo ser partilhada com os outros :-)