Thursday, June 01, 2006

“Brilhozinho nos olhos”!!!

Estacionei o carro, no mesmo sitio onde aprendi a andar de bicicleta. Olhei em volta e reparei em como tudo estava na mesma. Os mesmo cheiros e as mesmas pessoas. Pessoas essas que outrora eram jovens adultos penduravam-se agora nas varandas aproveitando o vento morno de uma noite de verão que lhes sopravam amenamente nos cabelos já grisalhos. Falavam umas com as outras de assuntos corriqueiros e conforme vou passando acenam-me em sinal de reconhecimento e sorriem perante a pequena pessoa que ali já brincou. Muitas delas são os progenitores daqueles que comigo descobriram as maravilhas do pequeno bosque que foi substituído por mais um prédio, cimentando hoje apenas a recordação de risos e gargalhadas de crianças. O bosque onde conheci a “Rainha dos Seixos”.
Passei pelo “lugar” da esquina onde ainda a Dona Cila avia os seus cafés e copos três. Engraçado nunca conseguiu dizer o meu nome como deve ser, tira-lhe sempre o único “ R” que têm, ontem não foi excepção(...)

Cheguei à porta da casa que mais recordações me trás. Os mesmos sorrisos e cheiros estão sempre lá. É a casa onde volto rigorosamente como uma ave migratória. Sei sempre que posso voltar.
Não entrei. Não logo naquele instante. Olhei o muro que segurou a minha adolescência. Descalcei-me e pendurei-me como sempre o fizera. Faltavam os outros mas bastou fechar os olhos para os sentir ali... os primeiros pactos de amizade, as primeiras ilusões e desilusões. E deixei-me estar ali sem me preocupar com quem passava.

Sem dar por isso comecei a cantar baixinho uma musica que já não me passava pelos ouvido há muito tempo mesmo:

“Com um brilhozinho nos olhos
e a saia rodada
(...)
“é que hoje fiz um amigo
e coisa mais preciosa
no mundo não há.”

Continuei de olhos fechados, e a musica surgiu-me nos lábios com se a estivesses a ouvir:

“E com um brilhozinho nos olhos
tentamos saber
para lá do que muito se amou
quem éramos nós
quem queríamos ser
e quais as esperanças
que a vida roubou
e olhei-o de longe
e mirei-o de perto
que quem não vê caras
não vê corações
com um brilhozinho nos olhos
guardei um amigo
que é coisa que vale milhões.

E que é que foi que ele disse?
E que é que foi que ele disse?
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Passa aí mais um bocadinho
que eu estou quase a ficar louco
Hoje soube-me a tanto....
Portanto, hoje soube-me a pouco*”

No fim um enorme aperto no peito pensei: “terei eu este tempo que passou, passado pela vida, ou foi a vida que passou por mim?!


E com um brilhozinho nos olhos voltei a calaçar-me e subi as escadas até ao primeiro andar da segunda casa. Cheirava a ervilhas. Sorri com todos os dentes que tinha, e senti as minhas certezas dentra das minhas escolhas feitas até ali...

* Sérgio Godinho “Brilhozinho nos olhos”!!!

5 comments:

Kiau Liang said...

Com certeza passaste pela vida pelo menos pela minha....

Gostei muito...

Lord Poseidon said...

As recordações da nossa vida são tesouros, que afloram na mente quando estamos em lugares que nos trazem lembranças boas.
Quanto ao tempo ele passa e não perdoa

Madame Pirulitos said...

kolma, não tens mail? Preciso mesmo mesmo mesmo mesmo mesmo mesmo mesmo de falr contigo. Deixas-me uma mensagem no meu mail que eu depois e-mailo-te de volta???

Beijos macaso

poca said...

tão lindo kolm...
que saudade do que ficou para trás... e as dúvidas sempre presentes cada vez que nos lembramos dos sítios por onde passámos e das pessoas com quem partilhamos momentos sempre especiais...
pessoas que cresceram connosco e com os nossos sonhos...
pessoas que apesar de não nos terem acompanhado de perto... as sentimos sempre como nossas... porque o estiveram numa altura crucial das nossas vidas...
também vejo assim... o regresso a casa... mas só o tu sabes escrever com tanto brilho e encantamento especial...
beijinho grande e bom fim de semana

(há dias dei por mim a lembrar-me do nome que deste ao teu blog "abismo dos encantados" dos encantados sem dúvida... agora o abismo nunca o consegui sentir... felizmente! :)

Madame Pirulitos said...

Agora voltei com mais calma.

Foi dos post mais bonitos que já fizeste.

Estamos sempre tão pre-ocupados a descobrir o que sentimos que muitas vezes esquecemo-nos simplesmente de viver.

Não acho que apenas tenhas passado pela vida. Espero que tenhas passado e parado e sorvido cada pedacinho e aproveitado cada instante de sol e sal. Pelo menos o bastante.