Convenci-me que tudo o que me rodeia é mágico. Transformo simples mortais em seres encantados que preenchem a minha vida de encanto e dou por mim a pensar que tudo e todos são imortais e sempre que quiser vou poder fechar os olhos e voltar décadas atrás mas...
Agora aproxima-se o momento em que vou subir aquelas escada de madeira que rangem ao peso do pé e não vai lá estar aquele sorriso por detrás daquela porta pintada de branco. Ninguém vai abrir. Se sorte tiver ocasionalmente ela abrir-se-á de velha e abandonada que está. O espanta espíritos vai tilintar num corrente de ar que se troca com uma janela de vidros partidos e eu vou tentar entrar. Pegarei nos retratos gafos pelo pó e com a ponta do dedo limparei aqueles rostos tão antigos presos em papel. Rosto que já não existem ou simplesmente estão imortalizados em genes apôs genes. Enquanto percorro o resto do apartamento afastarei da cara as teias persistentes dos seus novos inquilinos e tento não perturbar a sua paz.
A mesa do chá o cheiro da caixa das bolachas de baunilha estarão e ficarão sempre lá e aqui, nas minhas narinas que acolhem odores a partir do meu melhor sentido. A sensação de uma vida que ali existiu, mas que ainda não partiu, já não volta para mover os objectos e os trocar constantemente de lugar vai encher-me os olhos de lágrimas. Beijarei as dedada deixadas nos livros que foram lidos tarde após tarde, e vou inspirar cada palavra que me ferve na memoria recordando cada história contada com a convicção de uns olhos pintados de azul transparente.
Por fim antes de me virar para fechar a porta branca atrás das costas, olharei para o pequeno escritório e repararei na manta esquecida na cadeira de madeira muitos dias antes. Devagar aproximo-me e toco-lhe ao de leve com as mãos. Inspirarei o cheiro do corpo que aqueceu... e o que vou sentir?!
A porta branca fecha-se atrás das minhas costas. Começo lentamente a descer os degraus de madeira uma a um... Sopro os pós mágicos que trago num cantinho das bochechas e lá em cima oiço:
- Amanhã à mesma hora...
Quanto tempo é o suficiente para dizer adeus para sempre...
11 comments:
ò Moura encantada, sabes que nunca se diz adeus para sempre....
...porque para sempre, vivemos no coração das pessoas que amamos...
rspiff ouviu uma voz a chamar e saiu das suas sombras... para fazer companhia...
Memórias, cheias de pó, recordações, nostálgicas, que deixamos pela vida fora.
Belíssimo texto.
inspiro e expiro lentamente...
reparo agora que retive a respiração enquanto lia... não queria quebrar o encanto, retirar a magia...
queria poder lá estar no cimo das escadas para sorrir para ti, queria te confortar, queria retirar-te a dor...
mas sei que ninguém pode substituir ninguém.
quanto tempo leva... não interessa... fica a memória do que se viveu... e essa é tua, para sempre!
"Transformo simples mortais em seres encantados que preenchem a minha vida" lindo lindo lindo... doce doce doce... inspirador!
beijinhos e bom fim de semana
e ao cimo das escadas o sorriso irá sorrir à boa nova já tens musica, não a ouves ... é linda !
:)
ufasss...lindo como sempre!!
Vou ter que te encontar.
espero-te :)
É bom recordar e recordar o que kiau liang escreveu "... porque para sempre, vivemos no coração das pessoas que amamos..."
beijos!!!!!! Lindo texto
O tempo constrói pilares, macula a saudade e encanta a memória...perde-se àquele que diz adeus. Um sorriso, um cheiro, lembranças e momentos que jamais esquecemos!
Serei assíduo à teu cantinho, se me permites à claro!
Abraços!
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