Thursday, November 22, 2007

In the Flesh!


-É um menino – Gritou lá do fundo!
A outra fechou as pernas e olhou em faísca em direcção à porta. Num pulo seco atirou-se para o chão e desatou a correr nua, ainda de pele incandescente, no meio de palavras sujas. Percorreu o corredor estreito pintado cor de tijolo e chão transparente, de paredes cheias de espelhos construídos com imagens infinitas e grandes candeeiros de cristal, brilhantes. Não estranhou as pessoas que dançavam, vestidas com roupas fora da época e sorrisos prodigiosos. Cheios de luz. Algures um homem gritava em loucura desmedida. Felicidades desejou-lhe. Na correria tentou tocar-lhe, apenas sentiu a terceira mulher envolta em muitas musicas. A sede de tocar é sempre tão superior a ela própria que parece nascida com os sentidos trocados. Pobre diabo.

Numa corrente de ar arrepiou-se, estava próximo, pressentiu. O corredor não parava de crescer enquanto corria, não acabava. A dor, essa rasgava-lhe o peito enquanto o sangue jorrava das veias em gotas grossas. Dedos infindos entranhado na carne revoltavam-lhe as entranhas. Desfeita segredou... – Não quero o fim!

- Era um menino, senhora. Trazia três cartas na mão. Deixou-me esta!

Esticou-me o braço. Ainda tremia. Passei-lhe a mão pelo cabelo húmido e assegurei-me que se tranquilizava. Embrulhei-a numa manta quente e passei-lhe um chávena de chá escaldado! A sua figura ainda frágil olhava-me, assustada ofegava. Abri a carta. Num silencio ensurdecedor que me pareceu durar anos, li que mais uma vez estava à frente do - herói da história - História essa que se adiantou em frente aos meus olhos antes mesmo começar a acontecer!

7 comments:

Una Amiga de Mi Amiga said...

Ardente, belo e bizarro, como os livros que gosto de ler.
Lindíssimo.

Seamoon said...

bommmuitp bom..ehehe.
kiss

rspiff said...

Lembro-me de um comentário antigo, sobre se a inspiração pode ser partilhada, ou apenas "usada à vez". Hoje penso se, independentemente do que vamos escrevendo, do que vamos criando, o "perceber" não é a melhor forma de partilha...

Tudo em mundos feitos de palavras, que com o tempo se vão tornando mais cheios, cada vez mais mágicos... e que apesar de conhecermos bem, às vezes onde ainda parece que entramos pela primeira vez :-)

Não roubamos palavras, só as adivinhamos primeiro...

Anonymous said...

É bom sentir na carne a Alma que queima:)

Beijinhos:)

as velas ardem ate ao fim said...

Senti me a queimar como o chá.
adoro ler te.

bjinhos

Astor said...

E eu a pensar que era um post sobre os Pink Floyd :P

as velas ardem ate ao fim said...

Para ti boa semana.bjo