
-É um menino – Gritou lá do fundo!
A outra fechou as pernas e olhou em faísca em direcção à porta. Num pulo seco atirou-se para o chão e desatou a correr nua, ainda de pele incandescente, no meio de palavras sujas. Percorreu o corredor estreito pintado cor de tijolo e chão transparente, de paredes cheias de espelhos construídos com imagens infinitas e grandes candeeiros de cristal, brilhantes. Não estranhou as pessoas que dançavam, vestidas com roupas fora da época e sorrisos prodigiosos. Cheios de luz. Algures um homem gritava em loucura desmedida. Felicidades desejou-lhe. Na correria tentou tocar-lhe, apenas sentiu a terceira mulher envolta em muitas musicas. A sede de tocar é sempre tão superior a ela própria que parece nascida com os sentidos trocados. Pobre diabo.
Numa corrente de ar arrepiou-se, estava próximo, pressentiu. O corredor não parava de crescer enquanto corria, não acabava. A dor, essa rasgava-lhe o peito enquanto o sangue jorrava das veias em gotas grossas. Dedos infindos entranhado na carne revoltavam-lhe as entranhas. Desfeita segredou... – Não quero o fim!
- Era um menino, senhora. Trazia três cartas na mão. Deixou-me esta!
Esticou-me o braço. Ainda tremia. Passei-lhe a mão pelo cabelo húmido e assegurei-me que se tranquilizava. Embrulhei-a numa manta quente e passei-lhe um chávena de chá escaldado! A sua figura ainda frágil olhava-me, assustada ofegava. Abri a carta. Num silencio ensurdecedor que me pareceu durar anos, li que mais uma vez estava à frente do - herói da história - História essa que se adiantou em frente aos meus olhos antes mesmo começar a acontecer!