Thursday, August 09, 2007

O casamento...

Estava tudo pronto para o grande momento que era já no dia seguinte. Com tudo minuciosamente preparado, completo e mais do que perfeito. Os convites talhados a dourado para os mil convidados, a igreja enfeitada e o vestido branco pomposo. As flores apanhadas e sepultadas e as ementas inventadas. Até o sitio para convívio fora cuidadamente escolhido.

Desceram a rampa de mãos dadas e sorriso nos lábios.

O local era mais do que perfeito. Uma adega antiga localizada por detrás de uma serra bem encaixada entre a terra e o mar. Construída por cima das pedras milenares, balançava, tornando a musica desnecessária para dançar. Embalava. Ar puro e fresco circundavam o jardim fronteiriço que tinha vista para uma pequenina quinta que existia ali desde sempre.

O que eles não sabiam é que dentro dessa quinta, pairava um pesadelo. Um pequeno animal preto e ansioso espreitava-os na sombra, já perdido de gula.

Manhã de Sábado, 09 de Junho 07

Estacionaram três carrinhas perto da adega antiga. Os cheiros das iguarias próprias destes dias, levantaram um braço e foram bater bem à porta da casota (inha) do pequeno animal preto que vivia dentro da pequena quinta.

Acordou. Esbugalhou os olhos!
...

Ouviu o sino tocar. Levantou-se estremunhada pela hora. Vestiu qualquer coisa a correr e acudiu quem já gritava lá fora. Não queria crer no que os seus olhos viam. Tinha acontecido de novo. Num corredor que a separava do portão pintado de verde, teve que percorrer um labirinto de carne crua. Um autêntico espectáculo macabro de carnificina certa. Nem queria acreditar.

Escorrendo água pela testa abaixo, um homem gordo vestido de branco vociferava palavras podres do outro lado do portão pintado de verde, ordinarices que faziam rir um outro homem careca, baixinho, igualmente vestido de branco, que estava ao seu lado. Perguntou sem modos quem ali morava.

Enquanto percorria o corredor chutava os pedaços de carne espalhados por todo o lado, tentado passar despercebida. O pecado estava cometido num crime daqueles. Apesar de arcar com as consequências, acaba sempre por lhe perdoar.
...

Saiu da casota (inha). Trincou o guizo e tirou-lho o piu. Por uma gruta que apenas ele conhece escapuliu-se dos muros da quinta. À sua frente três carrinhas estacionadas com as portas abertas. Na parte de trás o paraíso da gula. Com o um braço feito de cheiro a apertar-lhe as goelas não hesitou sequer um minuto para reflectir. Ninguém o pode culpar por viver por instintos.

Uma a uma. Aliviou o peso às carrinhas. Na boca trazia bocado de cabrito ainda por cozinhar. Sem mastigar sequer, engolia pedaço maior que a garganta. Nem um lobo devorava assim.
...

O ladrão não era dali. E ao ver as figuras afastarem-se ainda sentiu pena dos prejudicados. O que seria daquele dia que teria que ser perfeito.

...
Duas horas mais tarde!

Ao longe um pranto. Uns gritos. Um prejuízo. Um noiva lavada em lágrimas e um noivo inconsolável. Mil bocas para alimentar e três carrinhas vazias.

Agora já não podiam ser felizes para sempre.

10 comments:

miak said...

Agora foste mais longe!!! E eu adorei.

Esta é de longe a minha estória preferida. Que delicia de texto...

Anonymous said...

Adorei a história:) quase que me fizeste rir, tivesse sido noutro dia rebolava a rir, tu sabes...

Gostei do sentido, pelo menos daquele que eu penso ser:)

E não podem ser felizes para sempre, uma vez mais perdidos do essencial...como sempre e com uma imensa maioria...

Beijinhos:)

as velas ardem ate ao fim said...

Sem palavras.Adorei.

bjinhps

inBluesY said...

parabéns !

encantadora de vistas :)

Astor said...

Ninguém pode ser feliz para sempre...

*

Una Amiga de Mi Amiga said...

Uma verdadeira delicia.

Seamoon said...

Gostei do labirinto de carne...
ehehhe.
Casamentos..enfim...
jinhos

as velas ardem ate ao fim said...

Um grande bjinho

Kiau Liang said...

Claro que podem, a não ser que estejas a falar do cabrito....

:)

Brottas said...

posso dizer qu epensei que estavs a relatar uma estoria verdadeira... e derepende senti-me dentro dela... muito bom adorei mesmo