Tuesday, October 10, 2006

Uma semana catorze dias...

... e ainda trago o cheiro nas mãos e nos dedos. No corpo e no cabelo. O aroma da terra molhada na boca e os ouvidos cheios de sons. Chamo-lhes as outras musicas vindas do vento, do mar, da chuva e do sol. Sons vindos de um tempo do qual eu fui dona e senhora deslizando como uma rainha que comanda e ordena quando deve de parar e quando deve de avançar. A duração de sete dias vividos na intensidade de catorze sentindo em cada cantinho do meu “eu” o tempo a roçar-se tranquilo. Feliz.

... e ainda sinto o primeiro rubor e o ultimo tremer de pernas de danças e andanças ao ritmo de uma intensidade estonteante onde fiquei nos primeiros furos e arranjos, nas gargalhadas, no medo, nas lágrimas, na noite, na madrugada nos sustos, nos gritos, nos verdes e nas outras cores .... e em cada pedalada dada no espaço de um quilometro de todos os sítios por onde passei, cada pessoa que conheci e cada batida mais forte do meu coração. Libertei-me de tal maneira que cheguei a esquecer que tinha uma vida paralela e que aquilo que estava a viver no momento é que era a minha verdadeira maneira de estar na vida..

... e ainda sinto na pele e nos músculos uma pequena dor do esforço que lateja a cada passada em direcção aquilo que existe. Agora que está na hora de atravessar olho para trás já com uma saudade que me rasga em bocados que se espalham por ai e estendo à mão. Ele não me seguiu.

Deixo-me ficar num silencio que é só meu desejando ardentemente ser transparente. Ficar aqui sem ninguém dar por mim, e sem ter que falar. Tenho medo de perder as sensações a cada palavra dita em direcção à realidade. Rodopiei de mãos dadas segura pela confiança cega de tanto amar...
Saltamos e pulámos em vestidos de papel. Choveu e desfizeram-se com a aguas. Livres... subimos em direcção céu...



Tróia, Comporta, Melides, Santo André, Sines, Porto Covo, Praia do Malhão, Vila Nova de Mil Fontes, Almograve, Cabo Sardão, Zambujeira, Odeceixe, Aljezur, Arrifana, Carrapateira, Praia do Amado, Vila do Bispo, Sagre, Lagos e muitas outros sítios dos quais não menciono mas não são menos importantes... calcorreados pedaço a pedaço em cima de uma bicicleta...

10 comments:

pinky said...

como eu te entendo! essa sensação de liberdade é das melhores que existem....

asdrubal tudo bem said...

Eu sei que é um sentimento feio mas é o que eu sinto ao ler o teu texto e ver as fotografias: Inveja

Isabel said...

Sabes eu adoro pedalar. Tive um professor que dizia... quando o corpo doer pedalem com a alma.
Tu pareces ter levado a alma e o coração a pedalar, depois sentaste-te e escreveste... e vejo-te a alma e coração entre as palavras...
Muito bonito quando se escreve assim.

Obrigada, foi bom passar aqui.

Isabel

Kiau Liang said...

Quem diria que ia demorar tanto tempo. Depois da escrita sobre bicicletas durante tanto tempo, finalmente a aventura. e que tamanha aventura.

Sabes que ia escondida na tua mochila? (levamos sempre um bocado de areia da nossa terra para onde vamos,não?)

Brottas said...

adorei a tua composição fotografica... muitos dos lugares onde eu gosto de estar aqui estao representados... e a bicicleta agora faz parte da minha vida... bom fds

Nuno West said...

Vou sonhar com rodas, raiadas...com flores...

Olá...

inBluesY said...

só podias gostar dessa zona ... é minha tb :)

Astor said...

ai ai ai.
tão bonita :)

Seamoon said...

Espero que tenhas gostado lá dos meus lados mágicos...zambujeira.

bjs

Luigi said...

Tinha-me escapado este post.. mas creio que ainda vou a tempo de apanhar-te na pedalada.
Tenho a certeza que no final dessa intensa viagem sentiste-te renovada, viveste com a natureza, fizeste parte dela tal qual como uma ave migratória. Perdeste a noção do tempo, uma semana 14 dias...

Que esse teu espírito livre perdure por onde caminhares pois a vida é uma constante pedalada :)