Não me mexi... poderia tratar-se de uma fotografia que fixasse para sempre a minha imagem no momento e por algum encantamento que ainda desconheço pudesses ficar por ali. Viver assim. Eu e aquele sitio. Eu e a noite. Eu e a tempestade com apenas um pé pendurado para o meu próprio abismo, aquele que não receio mas respeito.
Mas o clarão era tão forte que não conseguia abrir os olhos, não conseguia ver. Tive medo de ficar desfocada, perdida e irreconhecível. E queria tanto ver. Gritei desesperadamente nos rugidos do céus e deixei que as lágrimas desenhassem o seu percurso num rosto já encharcado. Uma a uma queimavam-me os olhos. Ainda não estava preparada. Não ainda.
Não aguentei. Cai sem sentidos e atravessei o deserto do sentimento sem sequer tocar no chão. Embati numa pequena pedra e flui pelo seu lado esquerdo.
(...)
Voltei a mim. Ouviam-se sorrisos perdido no barulho da lona vibrante que cobria o veiculo alto. Continuava a chover e ainda era de noite. Sai do carro e fui até onde o mar me lambia os pés. Trauteava repetidamente o mesmo refrão de uma musica que nunca tinha ouvido:
Eras tu a ficar por não saberes partir,
E eu a rezar para que desaparecesses,
Era eu a rezar para que ficasses,
Tu a ficares enquanto saías.
Senti uma leveza no peito. Percebi e deixei-me ir. Lavei a alma e desamarramo-nos ali mesmo.
Corri para o veiculo numa velocidade alucinante para ninguém se aperceber da minha ausência... e ainda lá estavam, todos sentados na mesma disposição.
Uns lábios tocaram-me ao de leve no ouvido e num arrepio ouvi:
-Está na hora!!
Larguei o momento... guardei a recordação... e continuei devagarinho!!
8 comments:
Que boa a sensação de não me obrigar a perceber...
Apenas sentir...
Escreves muito bem.´Que descrição tão fantastica. Já é normal também.
permite-me usar uma palavra que já vi que é teu apanágio (sorriso)
:)
Foi o que fiz quando li esta viagem transcendental. a noite por vezes é assutadora, ainda mais quando é diluviosa, mas é preciso ver, reconhecer e aprender a abrigar-nos da tempestade. caminhamos devagarinho com receio de não encontrarmos o caminho de volta. Existe um abrigo em cada luz acendida, em cada coração que revela todo o seu sentimento
baci per te
por onde andaste....?
adorava conseguir experssar-me por palavras como as tuas...
mhtEstive onde tu estiveste... e percebi tudo o que escreveste pedacinho por pedacinho. Tambem estive lá. Tambem larguei o momento, tambem guardei a recordação, e diferentemente continuei apressadamente com medo que a vida me voltasse a fugir.
Um abraço sentido.
Isabel
Beijo sem cor...
De uma concha que foi AZUL!
BShell
Mas um dia ainda nos vamos encontrar...
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