Monday, March 19, 2007

"Come down!"


Porque a vida é... tão simples como o facto de estar sentada em mesa redonda, rodeada de doze sorrisos. É simples com pão, bolas de Berlim, cerveja e vinho tinto. É simples como a viola que toca repetidas musicas conhecidas em vozes desafinadas, acompanhadas por ritmos batidos com um só pé. É simples como as gargalhadas e os silêncios nos aplausos descontrolados. É simples como um tocar de ombro e um olhar que pega e não descola. É simples como a fogueira que arde para aquecer do frio que se aconchega nos ossos e é simples como a noite cheia de estrelas em constelações partilhadas em segredo...

Os fumos de velas e incensos misturando os cheiros transcendentes... cheira a mil flores naquele presente que não quero que acabe nunca. Aquele presente que foi ontem e ainda aqui está agarrado à minha memória, numa noite infinita, que se uniu naquele exacto momento em que não me posso sentir mais feliz dentro de uma enorme tranquilidade de apenas querer ficar ali para sempre.

O coração agora bate devagar... mesmo dentro das sensações ELE sabe, que "aquela que por fora conduz" quer viver no desalinho daquelas sensações. Sem regras mas com certezas... e com muitas paixões seguras entre as mãos, SIMPLESMENTE perdida de sorriso!!

"To Build A Home" – The Cinematic Orchestra
Explodi ao minuto e trinta e oito...

Tuesday, March 13, 2007

A senhora do calaboiço

Acreditava eu que os príncipes encantados apenas existiam na cabeça de donzelas tontas com voz de cana rachada e dedos picados de agulhas tortas de tanto tempo fiar. E sempre me fez sorrir a ideia do trovador a berrar para uma janela enfeitada, dedilhando tristemente uma cítara e agonizando trovas de amor eterno, provocando arrepios aos seres mais tristes que por ali passassem.

Acreditava sem sequer pestanejar que um dia nas batalhas entre as terras e mundos desconhecidos que tentei conquistar até aos dias de hoje, esbarraria com aquele que deveras arrebataria comigo e com um só olhar roubava-me alma. Teria que lutar até ficar sem forças pelo meu “eu” e se saísse vencida dar-me-ia a mim como prémio. Tentei acreditar nisso, e foi esse acreditar que me fez andar despreocupada a espetar beijos nos maiores sapos sapudos que se transformaram, não em príncipes mas sim em fieis amigos encantados que cavalgaram comigo em demandas fantásticas com fins espectaculares.

Bem.. tudo aconteceu num belo dia de Páscoa para lá do século passado. Limpávamos armas e descansávamos o corpo cansado de tanto percorrer... viver. Repousávamos em praias privadas sobe a areia que já começava a ficar morna, solta de limpa que estava. Desencravou-se unhas, retirou-se espinhos e curou-se chagas de tanta dança e contradança. Treinam-se novas tácticas e habitua-mos as mãos a outras mãos.

Optei por passear na carroça puxada por cinquenta cavalos voadores mas naquela velocidade em que se voa deliciosamente a meio gás, fechando os olhos e perdendo o controlo de segundo a segundo.
Parei junto à falseia e deixei-me sentir esvoaçante numa conversa repleta de piratas zarolhos à procura de mulheres de rabos grandes. "- Boas parideiras"... diziam em risos estridentes de dentes podres. (...)

O vento apertou como uma maldição e arrancou-me, numa força de mil homens, abruptamente da carroça. Os piratas não tiveram tempo de agarrar uma das minhas mãos e em trambolhões confundidos com aqueles voos que jamais queremos recordar, cai pela falésia abaixo mesmo em cheio dentro de um calaboiço perdendo os sentidos.

Acordei. Estremunhei o sitio e assustei-me quando olhei em volta aterrorizada com a ideia de ficar ali para sempre. Presa. Lembro-me do pânico agarrar-me o coração e apertá-lo. Lembro-me do desespero que esgravatou com os meus próprios dedos a terra ainda mole das ultimas chuvas. Tentei não chorar. Tentei não gritar!!

- És uma princesa?!
ouvi coaxar... do escuro.

Num palavrão guinchei que não me faltava mais nada se não um sapo repugnante a pedir-me para ser beijado... senti-o aproximar-se e respondi-lhe entre dentes que NÃO.
Foi-se aproximando e ainda não lhe tinha posto os olhos em cima já as minhas entranhas se reviravam e não estava a conseguir compreender o porquê de perder o controlo por mais de um segundo numa curiosidade quase predadora de ver. Encaramo-nos... ou melhor eu encarei-o. E não percebi o sentido que o meu coração seguia em centenas de batidas...

- Podes experimentar, por favor?!
Voltou a coaxar...

Estiquei os lábios...

Juro que não sei o que se passou. Não sei se o cheguei a beijar... e antes que uma luz muito forte me magoasse a vista, ainda vi ao longe do calaboiço, que até à altura era apenas um buraco pequeno, um vulto a correr...

Ainda gritei...
- Não reza a lenda que o sapo fica com quem o beijou...
Mas não se virou para trás, sequer.

Olhei para cima e estavam os piratas a tentar atirar cordas para me tirarem dali.
Quando por fim consegui agarrar um braço tatuado apercebi-me que já não era a mesma. Estava diferente e quando olhei para baixo senti-me a cair em direcção ao meu destino que tinha acabado de fugir... Inventei eu uma lenda e recolhi-me. Sabia que tinha ficado presa, na longa espera de um beijo sequioso.

Não tenho ideia do dia do calendário em que cheguei à boca do calaboiço e sem vida me atirei lá para baixo. Sem juventude e sem vontade, apenas com melodias cantadas em voz de cana rachada.

Com o passar dos anos comecei a ouvir um tilintar constante... eram moedas.

Em volta do "meu calaboiço" circundava a lenda dos amores eternos. E as verdadeiras princesas começaram a sair das torres e vinham até ao meu limite atirar moedas e fazer promessas para eu lhes devolver os amados... gritavam o meu nome e atiravam a moeda... como se eu fosse uma Santa que vivia ali há séculos, anos, meses, dias, horas, minutos e segundos à espera...

Thursday, March 08, 2007

"Cataracts"

Sim, foi uma fábula. Uma fábula feita de instrumentos musicais e vozes melódicas, sinos e de um menino de sorriso traquina que não pára de crescer. Era uma fábula feita de assobios, arrepios e borboletas. Sorrisos, gargalhadas e alegria. Uma deliciosa fábula que foi contada em surdina para não ser ouvida apenas sentida. Uma fábula de fechar os olhos dentro do inconsciente num sentimento que corre mais depressa que o próprio sangue. Foi uma fábula cheia de mistério e magia que nem sempre é entendida e foi tão vivida.

E com aquela musica no ouvido, assobiava dentro do sonho onde recordava a fábula passada.

... Assobio num vicio entranhado dentro em mim. E quantas mais são as vezes que a oiço mais tenho a certeza que...

Se deixar de sonhar definho...